9. abril, 2013|Patologias|Comentários desativados em DIABETE EM CÃES E GATOS

DIABETE MELITO

DEFINIÇÃO

Diabete melito é uma alteração complexa do metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas, resultante de uma inabilidade em produzir  ou utilizar adequadamente a insulina.

O diabete melito pode ser classificado em:

Tipo 1: caracteriza-se pela secreção muito reduzida ou ausente de insulina, que não é suficiente para impedir a produção de corpos cetônicos, causando cetoacidose diabética, muito mais comum em cães, pois produzem menos insulina que os gatos.

Tipo 2: a secreção de insulina geralmente é suficiente para impedir cetose, mas não é suficiente para impedir hiperglicemia ou superar resistência à insulina. É mais comum em gatos pela deposição de substâncias amilóides no pâncreas, caracterizada por caráter hereditário.

Tipo3: é secundário à uma outra doença primária ou a uma terapia que induziu resistência à insulina. Em cães as mais comuns são: pancreatite, hiperadrenocorticismo, e administração de progestágenos. Em gatos, nos casos de: hipertireoidismo, acromegalia e pancreatite.

ETIOLOGIA EM CÃES   

A maioria dos cães diabéticos apresenta diabete melito dependente de insulina. Este tipo de diabete se caracteriza por hipoinsulinemia, nenhuma elevação sérica de insulina após administração de glicose ou glucagon, em qualquer momento após o diagnóstico da doença, falha em estabelecer controle da glicemia com dieta e ou hipoglicemiantes orais e necessidade de insulina para manter o controle glicêmico. A causa de diabete melito em cães não está bem caracterizada, porém sabe-se que é multifatorial. Os fatores que promovem o desenvolvimento de diabete melito incluem predisposição genética, infecção, doenças e antagonistas de insulina, obesidade, insulite imunomediada e pancreatite. Como resultado teremos perda da função da célula beta, hipoinsulinemia, dificuldade de transporte de glicose da circulação para as células, aumento da glicogênese ( reação de síntese da glicose que ocorre no fígado e nos músculos) e da glicogenólise (é a quebra de glicogênio a glucose) hepáticas. O desenvolvimento posterior de hiperglicemia e glicosúria provoca poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso. Para compensar a diminuição de utilização da glicose sanguinea, a produção de corpos cetônicos aumenta, resultando em cetoacidose. A perda da função da célula beta é irreversível em cães com diabete melito dependente de insulina, o que torna o uso de terapia com insulina necessária durante toda a vida para manutenção do controle glicêmico do estado diabético.

ETIOLOGIA EM GATOS

Em torno de 50 a 70% dos gatos diabéticos são portadores de diabete melito dependente de insulina, quando do diagnóstico.

Em torno de 30 a 50% dos gatos diabéticos são portadores de diabete melito não dependente de insulina. A causa neste caso é multifatorial. Intolerância a carboidratos induzida por obesidade e deposição de amilóide em locais específicos das ilhotas são fatores causadores em potencial. A obesidade pode causar diabete melito não dependente de insulina por uma intolerância reversível a insulina.

As necessidades de insulina aparecem e desaparecem em aproximadamente 20%  dos gatos diabéticos. Alguns deles podem nunca mais necessitar de insulina, enquanto outros tornam-se permanentemente dependentes de insulina semanas a meses após a resolução de um estado  diabético anterior.

PREVALÊNCIA EM CÃES

A maioria dos cães apresenta diabete entre 4 a 14 anos, havendo maior prevalência entre 7 a 9 anos. O diabete juvenil é raro e ocorre em cães com menos de 1 ano. As fêmeas são acometidas  2 vezes mais que os machos. Algumas raças apresentam predisposição genética para o desenvolvimento de diabete, enquanto em outras o risco pode ser relativamente baixo.

PREVALÊNCIA EM GATOS

Embora o diabete melito possa ocorrer em qualquer idade, a maioria dos gatos diabéticos tem mais de 6 anos na época do diagnóstico. O diabete melito é comum em gatos machos castrados. Aparentemente não há predisposição racial.

ANAMNESE

Todos os animais diabéticos apresentam como sinais clínicos poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso. Uma queixa comum dos proprietários de gatos é a necessidade de trocar o granulado da caixa constantemente. Não ocorrem poliúria e polidipsia até que a hiperglicemia resulte em glicosúria. Ocasionalmente o proprietário pode notar cegueira (pela formação de catarata) e fraqueza do trem posterior. Os sinais clínicos de diabete melito podem passar desapercebidos ou não serem considerados importantes para o proprietário. Se os proprietários não observarem os sinais clínicos associados ao diabete melito sem complicações e não se desenvolve catarata e fraqueza do trem posterior, o cão ou gato corre o risco de desenvolver os sinais clínicos sistêmicos da doença a medida que a cetonemia e a acidose metabólica se manifestarem. O período entre o aparecimento dos sinais clínicos e o desenvolvimento da cetoacidose diabética é imprevisível.

EXAME FÍSICO

Os achados ao exame físico dependem da presença de cetoacidose diabética, de sua gravidade e da natureza do distúrbio concomitante.  O animal diabético sem cetacidose não apresenta os sinais clínicos clássicos ao exame físico. Muitos cães e gatos diabéticos são obesos, mas estão em boa condição física nos demais aspectos. Cães e gatos com diabete prolongado e sem tratamento  podem perder peso, porém raramente estão emaciados, a  menos que tenha outra doença concomitante (ex: insuficiência pancreática exócrina, hipertireoidismo). A lipidose hepática induzida pelo diabete pode provocar hepatomegalia. Outro achado comum em cães diabéticos é a catarata. Gatos diabéticos podem apresentar uma postura plantígrada (os jarretes tocam o solo quando o animal anda), o que é raro, provavelmente causada por neuropatia diabética. Gatos com poliartrite também podem apresentar esta postura.

DIAGNÓSTICO

Para se confirmar o diagnóstico de diabete melito, o animal deve apresentar os sinais clínicos característicos (poliúria, polidipsia, polifagia, perda de peso) além da comprovação de hiperglicemia de jejum e glicosúria persistente, pois a hiperglicemia diferencia o diabete melito de glicosúria primária renal, enquanto a glicosúria distingue de outras causas de hiperglicemia, principalmente a de estresse no momento da coleta de sangue. Em geral, não ocorre glicosúria  em animais com hiperglicemia por estresse, pois no caso de elevação transitória na concentração sanguínea de glicose, ela não se acumula na urina em concentrações detectáveis.

TRATAMENTO

O objetivo principal do tratamento é a eliminação dos sinais clínicos (poliúria, polidipsia, polifagia, perda de peso) secundários à hiperglicemia e à glicosúria. A persistência dos sinais clínicos e o desenvolvimento de complicações crônicas, tem relação direta com a gravidade e a duração da hiperglicemia. Flutuações limitantes na concentração sanguínea de glicose e a manutenção de concentração sanguínea de glicose próxima ao normal ajudam a minimizar a gravidade dos sinais clínicos e a evitar as complicações do diabete sem o devido controle, o que pode ser conseguido com a administração adequada de insulina, dieta, exercícios, hipoglicemiantes orais, prevenção ou controle de doenças inflamatória, infecciosas, neoplásicas e distúrbios hormonais concomitantes ou uma combinação dessas medidas. O esquema terapêutico que acaba tendo sucesso depende em parte do número de células beta funcionais e da resposta do animal em relação ao tratamento. A normalização da concentração sanguínea de glicose é importante, porém deve-se ter cuidado para evitar o surgimento de hipoglicemia, complicação séria e potencialmente fatal, mais provável devido a administração excessiva de insulina.

TERAPIA DIETÉTICA

Deve-se instituir uma dieta apropriada para todos os cães e gatos diabéticos, independente do tipo de diabete que o animal apresenta. Deve-se sempre procurar uma orientação do veterinário para instituir uma dieta ideal para cada animal, pois é necessário adaptar a quantidade de fibras e outros nutrientes para um animal que esteja obeso ou magro.

EXERCÍCIO

O exercício é importante para manter o controle glicêmico em animais diabéticos, pois ajuda a promover a perda de peso e eliminar a resistência à insulina provocada pela obesidade. O exercício também tem um efeito redutor de glicose, aumentando a mobilização da insulina a partir do local de aplicação até a chegada aos músculos. Os exercícios devem ser diários e de preferência sempre no mesmo horário. Exercício em excesso e esporádico, pode provocar hipoglicemia acentuada e devem ser evitados. Cães com que realizam exercícios esporádicos  excessivos, nos dias que antecedem o esforço, deve ter a dose de insulina reduzida. Esta redução deve ser controlada sempre por um veterinário, pois a dose para prevenir a hipoglicemia é variável e é determinada por tentativa e erro. O proprietário deve estar sempre atento os sinais clínicos de hipoglicemia e ter sempre a mão uma fonte de glicose (ex: Karo, doce,  comida) para oferecer ao animal se necessário.

HIPOGLICEMIANTES ORAIS

Os hipoglicemiantes orais são indicados para o tratamento de diabete melito não dependente de insulina. O tratamento com sulfoniluréias (hipoglicemiantes orais) (seg. Nelson-Couto) não foi eficaz em cães com diabete melito, assim com as biguanidas.

TRATAMENTO COM INSULINA

As insulinas são classificadas de acordo com sua rapidez, a duração e a intensidade de ação após a aplicação. O tratamento com insulina deve ser sempre acompanhado pelo Médico Veterinário. É necessário os ajustes iniciais no tratamento com insulina. Cães e gatos com diagnóstico recente de diabete costumam ser internados por um período (não mais de 48 hs) para a avaliação do diagnóstico e iniciar o tratamento com insulina.

CONTROLE CASEIRO

O proprietário deve detectar a recidiva dos sinais clínicos e levar o animal para exames físicos periódicos, determinação do peso, e mensurações seriadas da concentração sanguínea de glicose, concentração sérica de hemoglobina glicosilada para avaliar o controle do estado diabético. É importante a avaliação do proprietário em relação a ingestão de água, ao volume urinário, ao  apetite e ao  peso. Se tais variáveis estiverem normais, pode-se dizer que o cão ou gato diabético está sob controle. Assim que o controle glicêmico for estabelecido, deve-se reavaliar a eficácia da dose de insulina a cada 2 a 4 meses.